Assim ela foi embora. Levou o sorriso e metade dos meus sonhos. Não lutou, não brigou e nem pediu pra ficar. Já havia uma mala guardada embaixo da cama, cheia de bons motivos. Fico pensando como seria se eu não tivesse construído nossa casinha de barro. Se por dentro eu não tivesse trancado tudo. Qual história eu contaria aqui? A de um quase amor? A de um quase sofrer? Infelizmente, de quase, já basta eu. Um quase eu. Um eu pela metade, porque o a outra parte ficou nela. Não entendi quando ela devolveu minhas coisas e ficou com quase tudo de mim. O pior é esperar ouvir asas bater lá fora. Esperar pousar aqui perto, como, de certa forma, sempre esperei. Nem sei se João de Barro canta, sei que meu canto ficou triste demais. O meu canto ficou vazio demais. Em um canto fiquei vazio demais. Nessa morada de barro vive o homem de barro. O pássaro sem asa. Voando pela graça de Deus.