domingo, 30 de outubro de 2011

Monólogo de Espelho

(Adan de Carvalho)


Corre e esconde tudo antes que vejam. Limpa a bagunça e disfarça o que puder. Para de olhar para o relógio, não te entregues tão facilmente. Não sejas tolo, o telefone não está fora de área. Porque pensar quando não se há o que pensar? Porque lembrar do que foi dito, se tudo já foi dito? E por mais que tua cabeça pese, nada mudou, nada vai mudar. Então, não desperdice a força que ainda  a ergue, refazendo e remontando o passado. Tu não podes mudá-lo. Mesmo que o futuro agora te pareça um pouco mais sem luz, a Luz sempre estará lá. Então sinta o cansaço, sucumba ao sentimento, mas só por um instante. Até isso te é lícito, quando isso é a única saída. Só não sejas escravo dele. Não seja ele a janela pra que veja o mundo. Dá os passos que a perna suporta, mas não te deixes ver debilitado. Tua força é o que ajuda a aqueles todos. Mesmo que tu sempre faças questão de que saibam que não vem de ti. Vem de Deus. Ainda assim não te dobres nas ruas. Não ofegues só de andar. Afinal, por acaso caminhas com o coração? Dá às lembranças o devido valor. Junta o que foi bom e vê que valeu a pena. Pega o que foi ruim e aprende. O nome está gravado e ficará. Isso é bom. O que estava gravado em ti antes (Deus) é o que agora vai te sustentar, como já o fez tantas vezes, como já estava fazendo. Então ajeita a roupa, a barba pode crescer, ainda fica melhor assim. Só te ajoelhes pra rezar. Arruma tudo. O que não puder, disfarce. 



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